Brasil conta com 10,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva e, dessas, apenas 7% têm ensino superior completo. A maranhense Jéssica Campos, 29 anos, é uma dessas poucas pessoas que conseguiram contrariar as estatísticas e concluir a graduação.
Jéssica se formou recentemente no curso de tecnologia em estética e cosmetologia da Faculdade Pitágoras de São Luís.
Com a mãe empreendedora, dona de um salão de beleza, Jéssica teve a certeza que esta seria a sua área profissional. “Minha primeira opção foi o curso de pedagogia, pois gosto da profissão e a comunidade surda sempre nos impulsiona a seguir a área de educação. Porém, por sempre acompanhar a rotina da minha mãe, eu comecei a ajudá-la no salão de beleza e me apaixonei. Foi então que tranquei o curso e resolvi me jogar nos estudos que tratam de beleza estética e saúde”, afirma a jovem.
Surda de nascimento, a jovem começou a aprender a segunda língua oficial do Brasil, a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras), aos 9 anos. Mesmo assim, não foi fácil. Ainda no início do curso, ela se deparou com o primeiro obstáculo: termos específicos utilizados com frequência na área, como a palavra argila, por exemplo, ainda não estavam contemplados em Libras. Jéssica não pensou duas vezes e decidiu usar sua determinação e criatividade para inovar: criou sinais próprios para conseguir entender o conteúdo e acompanhar as disciplinas.
Linguagem própria em Libras
“Juntamente com Rian Arouche, tradutor e intérprete de Libras que me acompanhou ao longo dessa trajetória, consegui elaborar um glossário específico com sinais da estética e cosmética. Com certeza, foi o melhor caminho para que eu pudesse me apropriar dos conceitos e termos técnicos utilizados”, explica.
A participação de Rian, profissional contratado da Faculdade Pitágoras, foi fundamental para a integração da ex-aluna. A unidade também conta com outro intérprete, que assessora alunos portadores de deficiência auditiva de acordo com a demanda dos cursos.
Para a coordenadora do curso de estética da Faculdade Pitágoras, Patrícia Crosara, a adaptação das palavras para Libras terá papel fundamental na inclusão de outras pessoas com deficiência auditiva que queiram ampliar seus conhecimentos na área. “A Jéssica, sem dúvida, é uma inspiração para todos nós, seja pela criatividade ou pela proatividade em lidar com os desafios. Ela realizou um feito que ajudará muitas pessoas a entenderem que há lugar para todos no mercado de trabalho, na faculdade e onde quiserem”, acrescenta.
Agora, já graduada, Jéssica realiza o sonho de ser uma empresária ao inaugurar o Librastetic, um espaço que funciona como esmalteria e estúdio de beleza. “Quando a pandemia acabar e as coisas voltarem ao normal, pretendo continuar estudando e me qualificando cada vez mais. Quero iniciar em breve uma pós-graduação na Pitágoras, usando a bolsa integral que ganhei da instituição. Meu sonho de empreender já está em andamento, recentemente abri o meu próprio negócio, que tem como foco o atendimento de surdos, ouvintes e outras pessoas com deficiência, principalmente em serviços de sobrancelha, manicure, pedicure, hena, depilação, limpeza de pele, entre outros”, explica.
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